sábado, 29 de novembro de 2008

Acção de Graças

Sou grato a Deus por tudo! Pelo milagre da salvação, santificação e chamada. Pela Edlyze e Eliane, bençãos de Deus. Pelo país e pela cidade. Por amigos e conhecidos. Grato pelas igrejas por onde temos passado e por esta desafiadora da Praia. Por colegas nas ilhas e na diáspora que facilitam. Realmente tenho motivos de Gratidão!

Ester, completou ontem mais um ano de vida. Continua jovem, mãe cuidadosa, esposa exemplar, pastora com nível, conselheira e amiga das coisas de Deus!

Nesses últimos dias tive outra vez a ocasião de estar com os meus em Bóston. Estão bem e graças a Deus com bem testemunho!

Sou grato a Deus pelo Delfim e Sandra que são exemplos no servir aos outros. A Sozinha e Juancho pela generosidade sem medida. A Nela e Brandão pelos gestos silenciosos que têm e que marcam sempre. Grato pelo Luís e Mazé que são nossos.

Os muitos sobrinhos são bênçãos de Deus e tudo querem fazer para alegrar o coração do tio que querem bem.

Viajar há dias com mámá de Bóston a Praia deu-me prazer imenso. Ser recebido pelo Dany e saber que Edith e meninos são fiéis a Jesus alegra-me. Ver Luísa e Daniel sempre amigos com as sobrinhas lindas faz-me outra vez grato.

Ter mana Lena e irmão Zeca com famílias encantadoras motiva-me.

Mas, quero compartilhar convosco duas mensagens que recebemos neste mês de Novembro em que somos chamados a GRATIDÃO!

“Adérito, eu não posso dizer o quanto significou para nossa família que tivesse vindo de Cabo Verde para falar no funeral de nossa mãe. Foi muito bom ver-te chegar! Dá um grande abraço a todos os nossos amigos em Cabo Verde”.

“ Adérito e Ester, não sei se podem ainda lembrar de mim! Quero vos dizer que o vosso amor, alegria e interesse por mim na Boa Vista, agora deu frutos! Sou vossa irmã em Cristo, membro da igreja em Lisboa e presidindo MNI. A minha decisão tem muito a ver com vosso testemunho. Vocês plantaram a semente no meu coração . Obrigada pelo exemplo que me deram e perdoem-me por tudo. Nunca deixei de pensar em vocês. Sois para mim uma bênção e referência”.

“Que darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o seu povo”.

- Feliz Dia de Acção de Graças! -

- Adérito Silves Ferreira -

Tempo de Loucura

Numa das minhas viagens pelo interior da ilha, um homem de média idade, com traças visíveis de uma vida dorida e de luta entrou na sala onde eu estava atendendo um grupo de pacientes que o jovem médico tinha previamente triado.
Depois de o ter nominalmente identificado, constatei que o nome dele não figurava na lista que me tinha sido fornecida. Concluí que se tratava de um individuo de um outro grupo, geralmente seguido no Serviço onde eu trabalhava e que, sempre que por lá aparecia, aproveitava para, entre coisas, renovar a receita ou ar uma pequena fala.
A minha pergunta confirmou-lhe que já não me recordava dele, embora, muito estranhamente, tinha uma vaga ideia daquela fisionomia, ao fim e ao cabo tão parecida com centenas, senão milhares de outras, que as dificuldades da vida foram moldando através do tempo. Só que a minha inquirição apesar do disfarçado esforço de simpatia, tirou-lhe todas as dúvidas.
Algo constrangido, mas com a simplicidade de camponês sorriu sem grande preocupação e disse-me pousadamente: “ Eis o homem que quis matar-se por causa de um dia de trabalho!”
Numa fracção de segundo, vi aquele homem trazido pela esposa, silencioso, cabisbaixo e que continuava sempre com a cabeça curvada entre as duas mãos. A companheira tinha dito que era trabalhador, batalhador até, pai de - já não me lembro bem – de uns seis ou sete filhos.
Conversa puxando conversa, lá fiquei sabendo que, sem razão nenhuma o marido tinha deixado de comer e dormir, mas naquele dia – sem se saber porquê – tinha pulado uma rocha. Soube também que conhecera o homem desde a mocidade já tinham uma vida comum de quase vinte anos sem que nunca tivesse reparado nada de estranho nele. Insistindo um pouco, ela pediu a minha compreensão e reconheceu que “ não a procurava nos últimos três meses”, sem ver nisso qualquer problema. Já um pouco mais solta, revelou que por vezes o considerava “ um pouco brejeiro”. Os contactos regulares foram estabelecidos e pouco a pouco o homem foi soltando as suas dores até que, já razoavelmente restabelecido, contou-me que decidira por termo á vida porque naquela quinzena – considerava – ter sido defraudado de um dia de trabalho. Foi a primeira vez que o ví sorrir. Ainda voltou mais vezes e, salvo o erro até a alta.
Quando soube na missa dominical que eu estaria no concelho decidiu, então, “perder um dia de trabalho só para uma mantenha”. Enfim, queria que eu me lembrasse do homem que quis matar-se por causa de um dia de trabalho. Entregou-me uma sacola, contendo alguns produtos da terra. Vendo o seu ar “brejeiro”, dei uma gargalhada à qual ele correspondeu ruidosamente. Tempo de Loucura!

-Dr. Daniel Silves Ferreira

- Psiquiatra -

Uma Viagem em Outubro

O Superintendente Araújo quis falar comigo com alguma urgência! Entendi ser assunto que reclamava minha presença no escritório distrital. Atravessei a rua e estava lá.
Adérito, D. Glória Henck partiu para estar com o Senhor! Parei por instantes considerando que noticia era aquela!
Algumas boas recordações me vieram à mente e reconheci naquele instante e mais uma vez o riquíssimo ministério do Casal Henck, entre nós, nas ilhas de Cabo Verde.
A decisão estava tomada! Cabo Verde, isto é o distrito devia fazer-se representar nas cerimónias fúnebres de D. Glória. Farás, esta viagem por nós, concluiu o Super!
TACV seguira na véspera no voo directo para Bóston e desde logo viajar via Europa nos pareceu ser a hipótese de lá chegarmos a tempo.
A cerimónia na Alliance Church of the Nazarene em Ohio, estava marcada para as 11:30 AM, de sábado, 11/10/08, onde o Rev. José Delgado seria o pregador e nós no Locust Hill Cemetary, às 14:30 PM.
Saímos da Praia cerca das 13 horas de sexta 10, depois da oração do colega Rev. Araújo no aeroporto para o Sal, depois Lisboa onde passamos a noite e continuar de manhã muito cedo para Amsterdam e chegar a Bóston quase 00:00 horas.
Pastor Delfim como sempre lá estava e desta vez acompanhado da nossa filha Edlyze, com informações precisas de quem é organizado na forma de fazer as coisas. Temos de voltar ao Logan Airport para seguires para Detroit ás 5 da manhã e depois mais um voo para Acron/Canton no Ohio. Percebi que o dia seria longo! Porém, estava animado!
Chego ao pequeno aeroporto em Acron e saio o mais rapidamente possível e encontro um irmão á minha espera. Localizei-o pela folha de papel com este nome bonito: Adérito Ferreira! Rev. Roy pediu-me que viesse buscá-lo e dizer-lhe que a cerimónia só terá seu inicio quando irmão chegar! Meu coração ficou apertado e contive as primeiras lágrimas!
Andamos cerca de 80-100 milhas e estávamos nos aproximando do cemitério, quando o hino “Mais perto quero estar meu Deus de Tí”… bateu-me em cheio e desta vez chorei!!
Mal estacionamos o carro Sr. Roy se dirigiu a mim, com irmão Delgado ao lado e seguido pelos quatro filhos, o Kim, Rex, Kevin e Steven. Abraçou-me e em lágrimas me disse essas palavras que quero guardar para sempre: Adérito, diz ao David e todos os colegas e leigos em Cabo Verde, que estão com este gesto dando-me um grande apoio e a mensagem clara que eu e “GLO”, cumprimos a nossa chamada! E chorou demoradamente ao meu ombro! Os filhos um a um, a começar pelo Kim, agradeceram Cabo Verde e os cabo-verdianos! Vieram os familiares, pastor da igreja e irmãos, cada um á sua maneira, disseram como D. Glória passava o tempo falando de Cabo Verde e pedindo orações constantes!
Era momento de fazer a representação oficial que me levara a OHIO, dando a mensagem do Superintendente e Distrito de Cabo Verde! Rev. Delgado, colega que passei depois desta experiência a respeitar e amar mais, serviu de intérprete e sem saber era “meu ânimo”, naquela hora difícil. Deus foi-nos mais uma vez Fiel e o Espírito Santo se revelou! O tempo quase parou e a brisa suave daquele lugar que jamais esquecerei nos deram a dimensão do viver santo, para alcançarmos as bem-aventuranças eternas.
Todos choramos e cantamos outra vez: …mais perto quero estar”!!!!
Era tempo “de deixarmos D. Glória”! Sr. Roy, Sr. Delgado e eu nos aproximamos do caixão e ouvimos irmão Henck pronunciar estas fortes palavras: “Glo, Deus é testemunha de como te amei ao longo desses anos e tudo fiz para que fossemos felizes! Até um dia! E voltamos a chorar muito!
Ficamos mais um dia com Sr. Roy e família, participando no culto devocional de domingo, mas, tendo conversas e trocas de experiências (a três) Sr. Delgado e eu, cujo valor só eternidade revelará.
Era chegado um outro momento particularmente comovente. No aeroporto em Acron, Sr. Roy fez questão de vos ver embarcar! Oramos na despedida e abraçados choramos. Os pés se tornaram pesados e o anúncio do nosso voo ecoava!
Teria sido, pelo menos para mim, os dedos levantados em sinal de vitória da parte do irmão Roy, a facilitar nosso embarque.
Dentro da sala, eu e irmão Delgado um pouco mais confortados trocamos as primeiras palavras, início de um diálogo muito elevado.
Estava outra vez em Detroit a caminho de Bóston, Amsterdam, Lisboa e Praia.
Já em casa dei o relatório ao Superintendente com Eunice e Ester presentes, enquanto víamos algumas fotos. Choramos e oramos juntos.
Sim, amados foi acertada a decisão de estarmos com Sr. Roy e família, como foi bênção encontrar o irmão Delgado com eles.
Para mim o Casal Henck fez um excelente ministério nestas ilhas deixando marcas que permanecerão. Contudo, Sr. Roy pede desculpas a qualquer um por alguma circunstância ou situação ocorridas nos anos entre nós! E agradece Cabo Verde pelas bênçãos!

- Adérito Silves Ferreira -