sexta-feira, 10 de abril de 2009

De Irmão para Irmãos


Quase todas as semanas eu envio a minha crónica “De irmão para irmãos” a um amigo que não frequenta a nenhuma igreja. Algumas semanas atrás, não me ocorreu mandar e ele“reclamou” dizendo-me com a amizade que nos une desde a nossa meninice: “ Já dei conta que desde que escreveste acerca de mim, não me tens mandado o artigo.” Quis desculpar-me fazendo-lhe entender que apenas aconteceu e que tenho estado um pouco ocupado, razão pela qual tem-me passado da mente. Como bom amigo, ele entendeu muito bem.
Percebi pela tonalidade da voz, apesar da conversa ter sido ao telefone, que alguma coisa o estava incomodando. Coloquei-me à disposição para algum préstimo caso fosse necessário e possível. Sem entrar em detalhes, se bem que entre nós existe uma abertura total, ele resumiu tudo em poucas palavras dizendo: “ Delfs, sinto-me abatido”.
Pedi permissão para contar-lhe a seguinte história:
O menino com menos de dez anos de idade, tinha ido à escola e regressou à casa na hora de costume. O pai, um alto funcionário, estava trabalhando na empresa. Em casa estavam, como sempre, a mãe e mais dois irmãos, uma menina e um menino, todos ainda na idade pré-escolar. A casa deles ficava situada numa zona suburbana, uma residência cômoda de gente de classe media-alta. Ao entrar, a mãe e os irmãos não estavam na sala; não os viu também na cozinha e percorreu todos os quartos de dormir e não os achou. Estavam na garagem, cada um pendurado a uma corda. Ao lado, a mãe havia deixado uma nota com apenas uma palavra: “Abatimento.”
Para o menino, o choque foi tremendo. Como deveria ter sentido quando viu a mãe e os irmãos naquela situação? Certamente este estado de alma vai perdurar por toda a vida. Qual teria sido a reacção do marido e pai ao tomar conhecimento da notícia?
Obviamente que as tragédias não nascem do nada. O que foi então que provocou tudo isto? A família vista a olhos nus, era feliz. O marido tinha um bom emprego. A jovem esposa era bonita. Os três meninos eram um encanto. A casa em que viviam tinha todas as comodidades. Aparentemente não tinham problemas.
Os vizinhos, familiares e parentes não conseguiam encontrar nenhuma explicação plausível. Não foi crime cometido por outrém, não foi loucura, e a única razão ficou toda expressa na única palavra que a mulher deixou escrita; “abatimento.”
Ela nunca havia dado sinal de angústia. Guardava tudo internamente e sofria dentro dela. Contudo chegou o dia em que ela não conseguiu mais suportar. Num instante, como uma casa que se desaba, ela toma uma decisão fatal.
É de se lamentar, mas ela não é a única, nem a primeira pessoa que sofre de abatimento.
O grande Salmista Davi, apenas nos Salmos 42 e 43, escreve três vezes estas palavras: “ Porque estás abatida oh minha alma?” mostrando que o abatimento ataca a qualquer pessoa não importa o “grau” de espiritualidade.
Das três vezes que Davi menciona aquelas palavras, o rei também não deixa de referir, por três vezes, estas outras: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei...”
Apesar de ninguém estar livre de momentos de abatimento, a fé no amor de Deus, e a esperança da Sua ajuda, nos livram de um estado de ânimo assim. A única coisa a fazer é dar permissão a Deus de entrar na nossa vida, pois quando Cristo mora em nós, há recursos contra o abatimento.
Meu amigo escutou atenta e pacientemente toda a narrativa e fiquei com a sensação de que de uma forma ou outra ele tirou algum proveito para o seu estado de alma.
É esta mesma história que quero compartilhar com todos os meus irmãos, no sentido de todos terem condições de combater este mal que vem assolando a maioria de nós.
Entregar tudo nas mãos d’Aquele que tem todo o poder.
Delfino Andrade Silves Ferreira