segunda-feira, 16 de março de 2009

De irmão para Irmãos


Quando estava nos últimos anos do liceu, juntamente com alguns condiscípulos e amigos, tinhamos um grupo cujo objectivo era ler o maior número de livros ou artigos possível e nas horas de lazer, compartilhar as “novidades” do livro ou do artigo lido. No princípio, aquilo era uma brincadeira de alunos que estavam se preparando para a universidade. Mas com o tempo, começou a crescer em todos nós uma paixão sem medida por saber mais coisas, que decidimos que seria melhor se cada um procurasse um assunto da sua preferência, e desta forma abrangiríamos vários temas. Entre nós, havia um colega que nos contava tudo àcerca do futebol, desde a táctica usada por vários treinadores, até a data de nascimento dos jogadores. Por causa dele, até hoje tenho memorizado a idade de alguns jogadores que jogaram no Benfica na década de oitenta. Um outro, “dominava” a política, de modo que vasculhava livros que falavam até da luta de classes na idade média para compartilhar conosco. Os “golpes de Estado”, coisa vulgar em Àfrica nos anos oitenta, chegavam aos nossos ouvidos quase antes de acontecer.
A minha “área” era a biografia de gente famosa. Podia naquela altura recitar, sem muito esforço, a vida da maioria das personalidades do panorama mundial. Tinha comigo jornais que circularam em Portugal ainda antes da monarquia.
Reconheço que aprendemos muito uns com os outros e vos confesso que guardo gratas recordações daquele tempo.

Há dias, encontrei-me, por acaso, com um daqueles colegas e, a brincar ele me disse: “ Delfs, já não te lembras nada do El Duque.” Voltei para ele e disse-lhe:
O nome dele é Duque Ellington. Nasceu nos arredores de Washington, descendente de uma família negra. Desde muito novo demonstrou uma certa elegância e fino trato. Vestia-se bem, falava com desenvoltura e comportava-se de modo educado. A tonalidade da sua voz, seu carácter, seu sorriso sempre suave, fazia dele um garoto distinguido pelos demais. Com catorze anos começou a trabalhar num lugar onde se vendia refrescos e caramelos. O uniforme da firma levava muitos botões e ele ficava tão orgulhoso e elegante com o traje, que começaram a chamá-lo “EL Duque”, nome que o acompanhou até a morte.

Continuei: Foi um célebre músico de jazz, de um estilo elegantíssimo, executado pela orquestra que ele mesmo dirigia sentado ao piano, o que fez dele uma das personalidades musicais mais influentes do século vinte. Ele compôs mais de novecentas obras de qualidade, foi condecorado com altas distinções governamentais e um dos seus maiores êxitos, obteve-o com a canção intitulada “Caravana” que é escutada por todo o mundo.
Aqui parei, e disse ao meu amigo: estás satisfeito? Antes dele me responder disse-lhe : Agora ouve só mais isto:
Antes de El Duque morrer, no dia vinte e quatro de Maio de 1974, com setenta e cinco anos, ele resumiu a sua brilhante carreira de êxitos, nesta frase que se tornou célebre: “Deus tem sido muito bom para comigo.”

Cada dia enfrentamos várias situações; umas trazem tristeza, outras trazem sucesso algumas trazem alegrias e isto se prolonga até o dia quando Deus nos chamar. É certo que nem todos podemos gozar de uma carreira brilhante como a de El Duque. Contudo, todos nós podemos ter o mesmo testemunho dele. Realmente Deus quer que tenhamos paz, fé, esperança e serenidade de espírito. Cristo, Deus feito homem, deseja entrar em sua vida e convertê-la daqui em diante em uma benção para os demais.
Esta foi a conversa que eu tive com o meu amigo. Mas não a terminei, sem perguntá-lo o que é que ele podia dizer de Deus naquele momento. Infelizmente, ele não me respondeu.

Com gratidão no coração, vos digo, meus queridos irmãos, que Deus tem sido muito bom para comigo. Meu desejo e oração, é que todos vós possais dizer a mesma coisa.

Delfino Andrade Silves Ferreira