quinta-feira, 21 de agosto de 2008

OS VERBOS DA COMPAIXÃO

Verbos são a espinha dorsal da frase. Exprimem o que se passa, localizam no tempo um acontecimento.
Fala-se hoje muito de vocabulário técnico, uma linguagem específica e privada em que se expressam certos ramos de conhecimento. “Chutar” é próprio do futebol. “Programar”, da nova ciência de computadores. “Frisar” é já da esfera das cabeleireiras, como “refogar” pertence ao mundo dos cozinheiros e “operar” ao dos cirurgiões.
Sentimentos e emoções têm também os seus verbos. Namorar, beijar e casar, relacionam-se ao amor. Agredir, difamar e matar, associam-se ao ódio.
Que verbos exprimem hoje a compaixão? Torna-se importante alistá-los, pois revelam a natureza que atribuímos ao sentimento. Vejamos, então, os mais comuns: lamentar, chorar, suspirar, condenar, criticar, queixar, protestar, lastimar. Todos eles sugerem comportamentos que podem ocorrer no aconchego do lar, longe de fricções e atritos custosos. Podem ser expressos sem que tenhamos de levantar um dedo.
No Evangelho de Lucas, compaixão ganhou outra dinâmica e vem associada a uma lista inédita de verbos de movimento. Há uma avalanche deles na parábola do Bom Samaritano: aproximar da vítima; atar feridas; medicar com azeite e vinho; pôr sobre a cavalgadura; levar para uma estalagem; cuidar do necessitado; dar dinheiro; voltar para pagar o preço total do ministério de socorrer vítimas.
Mais adiante, no capítulo 15, encontramos o pai do filho pródigo conjugando outros verbos da compaixão: correr para abraçar; vestir para agasalhar; comer para alimentar; festejar para exprimir a autenticidade da recepção ao que estava perdido.
Compaixão não vem em frascos de lágrimas inconseqüentes. Tem braços e pernas, comandados por mentes cheias de imaginação e almas transbordantes da dinâmica do amor.
Dr. Jorge de Barros