
É reconhecido que a complexidade dessas situações faz com que esses momentos também não sejam sempre entendidos por aqueles que como eu têm bebido em fontes semelhantes, certo, mas com água de dissabores diferentes. Estou em crer que não o terão sido pelos que nos precederam.
Aconteceu num desses períodos de campanha eleitoral em que todos, de forma diferente, sem dúvida, apresentam os seus chiliques que na maior parte das vezes escondemos a sete capas mas que o menor dos safanões faz vir à tona, demonstrando, se disso houvesse necessidade o quanto estamos próximos do outro, pelo menos no que diz respeito a essa condição mais ou menos real que é a loucura.
Não posso dizer que estava sintonizado, mas, muito rapidamente pude captar o pequeno deslize do rapaz.
O jovem saiu com aparente tranquilidade e deu um berro em nada inofensivo. Os transeuntes já se tinham ajuntado quando ele se debatia consigo e com todos, inclusive o imaginário. Comentários dos mais diversos foram ouvidos, cada um mais louco que o outro. Nada podia corroborar as várias afirmações que foram proferidas no meio daquela balbúrdia. Até então tido por saudável, pela atitude, pelos gestos e pelo comportamento. Sem dúvida nenhuma dos tais que primam por um estilo de vida saudável.
Um senhor da meia-idade conseguiu milagrosamente que se fizesse algum silêncio e sentenciou: “ Isto é loucura! O pai também teve um problema semelhante quando era jovem. Foi também uma coisa de lua. Era tempo de festa. Melhorou mas ficou sempre de cabeça leve. Ficou com falta de um parafuso.”
Fiquei pasmado e a confusão recomeçava. E, três palavras teimosamente associadas ficaram gravadas na minha mente. A loucura, a lua, o tempo! Tempo de loucura!
- Dr. Daniel Silves Ferreira –
- Psiquiatra -