Era o último dia do mês de Junho do ano 1990. Por volta das 11 horas da manhã, numa sala do hospital de Cambridge, uma enfermeira entregou-me uma menina, que orgulhosamente coloquei no meu peito. Estava receoso que as minhas grandes mãos pudessem fazê-la mal, mas poucos minutos depois ela passou pelo sono agarrado ao meu dedo. Naquele momento, dei conta que era pai de mais uma criança.Nos primeiros anos, ela passava muito tempo comigo e desde então percebi que ela sempre quis saber que eu estava presente. Evidentemente, fiz os possíveis de estar no lugar certo para com os meus meninos, não apenas com o nome na certidão de nascimento mas, com uma forte, quente e amorosa presença na vida deles.Não faço a mínima ideia do que teria passado pela mente da minha filha quando naquela tarde do décimo quinto dia de Junho de 2008, ela se despediu de mim para o início de uma jornada, numa nova etapa da sua vida.Quanto a mim, vos digo que, dezassete anos de pai, passaram-se ante os meus olhos; o nascimento, as fraldas, as noites e dias de algum choro, o primeiro dia de escola, a ajuda nos trabalhos de casa, idas a piscinas, jogos, visitas aos museus, passeios em Boston, viagens, igreja etc. Sempre juntos, eu e ela, íamos a todos os lugares.Agora, por imperativos da vida (compromisso de igreja) não pude acompanhá-la, nem tão pouco estar presente no primeiro dia de uma longa e cansativa jornada. Ela talvez não tenha percebido, mas o coração virou-me do tamanho de um grão de milho quando ela veio para se despedir de mim.Não sei se foi o fim de uma fase de um relacionamento, mas pareceu-me que sim. Talvez, até dentro dela, quisesse me dizer: “ já sou crescida, obrigada pelas memórias, pelos conselhos, orações mas, “Adios” velho....” Todos esses pensamentos circularam numa fracção de segundos pela minha mente, antes de usar mais uma vez aquelas palavras típicas do pai e neste caso também do pastor: “Comporta-te bem filha, Deus estará contigo e pápá estará orando por ti.”Minha filha, entrava agora numa aventura sozinha. Ninguém perto para dizer como fazer isto ou aquilo; ninguém para evitar do “lobo” e ela tão pequenina aos olhos do pápá.Acompanhada da mãe, do irmão e de um primo, ela saiu e então eu entrei no quarto e pensei que esta é a realidade da vida: mudança. Pais e filhos, todos precisam de mudança. Entendi que afinal eu estava entrando numa nova etapa da minha vida, e que todo o tempo eu vinha preparando-a, não para passear, divertir, jogar, sem mim, mas para enfrentar o mundo sem mim. Com os seus próprios ideais, com os seus colegas, amigos mas acima de tudo com a sua própria fé em Deus.Com esta convicção, concluí que sabia que ela tinha de ir, que estava tudo certo, e que ela ficaria bem. Mas também entendi que não tivemos tempo suficiente para compartilhar um com o outro todas as emoções do nosso coração. Enquanto imaginava o trajecto de estrada, e perspectivava o desejado regresso mais tarde, quero que todos os meus irmãos saibam, que não foi difícil estar consciente de que muita coisa vai ser diferente apartir deste momento, mas que o meu amor por ela não vai diminuir nunca.Como acredito em Deus e na sua Santa Palavra estou descansado, pois o Salmista me recomenda no Salmo 37:5 “Entrega o teu caminho (preocupações, dúvidas, ansiedades, etc. etc.) ao Senhor, confia n’Ele, e Ele tudo fará.”
Delfino Andrade Silves Ferreira
Delfino Andrade Silves Ferreira